Programa televisivo de comédia na atualidade varia, basicamente, entre a exibição de corpos sarados e as paródias sobre a classe média baixa. Tapas e Beijos, que estreou em abril na RBSTV, pode ser classificado na segunda opção. O elenco traz atrizes consagradas, como Fernanda Torres e Andrea Beltrão. O roteiro pouco elaborado, porém, deixa a tentativa de humor por conta dos velhos clichês televisivos que representam, com preconceito e precariedade, o cidadão das classes econômicas mais baixas.
As histórias mostram o cotidiano das personagens e os seus problemas amorosos. Sueli e Fátima são melhores amigas que trabalham como vendedoras em uma loja especializada em roupas de noiva no bairro Copacabana, no Rio de Janeiro. Ambas moram em uma comunidade pobre, pegam ônibus lotado e almoçam em um boteco árabe. Uma é amante de um vendedor de artigos importados. A outra é casada com um homem que, após passar anos sumido, volta contando que estava preso. Detalhe: este, que acaba de cumprir pena por roubo, é o único negro da minissérie.
Tapas e Beijos vai na onda de programas como A Grande Família, no ar há 10 anos mostrando o dia a dia de personagens de um núcleo pobre e de gosto estético duvidoso: a jarra em forma de abacaxi da Dona Nenê e as camisas xadrez de Agostinho falam por si. Mas eu não vejo problema em haver programas de humor fúteis na televisão brasileira. Arrisco dizer que um pouco de futilidade seja até “saudável”. Tu trabalhas o dia inteiro, chega em casa com fome, liga e televisão e não está muito a fim de pensar sobre os conflitos no Oriente Médio. O problema é ver o quanto ninguém se questiona sobre o que está sendo oferecido pela grade de programações dos canais televisivos. E o pior é ver o cidadão brasileiro sendo retratado nesses programas como um ser imbecilizado. Pobre na televisão é brega, barraqueiro ou ladrão.
Há alguns anos, humoristas como Chico Anísio, Jô Soares ou o elenco da Praça da Alegria criavam diversas personagens e quadros que revelavam um trabalho de produção, pesquisa e roteiro elaborados. Lembro de programas como o extinto Casseta e Planeta, no início dos anos 90, e seu antecessor, o aclamado TV Pirata, também dessa época. O humor ficava por conta da ironia e das sátiras aos políticos e à situação econômica e social do país, além de debochar dos programas exibidos na própria Rede Globo, como Globo Rural e as telenovelas “campeãs de audiência”. Nos últimos anos, porém, Casseta e Planeta acabou perdendo este caráter crítico e se especializou em imitações das personagens da novela das oito. A audiência, inevitavelmente, caiu e os Cassetas foram tirados do ar.